Quimioterapia em Altas Doses e os seus Efeitos

  • Regime de Condicionamento

    Antes do transplante, o doente é submetido a um regime de condicionamento. Ou seja, é submetido a um tratamento no qual recebe quimioterapia em altas doses, cuja finalidade é destruir a medula do doente e as células malignas. Pode durar de 1 a 7 dias e serem utilizados um ou mais citostáticos, dependendo do seu regime de condicionamento.


    Existem 2 tipos de regimes de condicionamento:

    - Mieloblativos;
    - Não mieloblativos.

     

    Nos mieloblativos (mielo=medula, ablação=eliminação) a quimioterapia destrói, de forma irreversível, toda a medula do dador.


    Nos regimes não mieloblativos, também chamados de intensidade reduzida, são eliminadas as células cancerosas mas a medula não é completamente destruída.

     

    As altas doses de quimioterapia a que o doente é submetido podem trazer complicações como: alopécia, mucosite, cistite hemorrágica, doença hepática veno-oclusiva, CMV, entre outros

     

     

  • Alopécia

    A quimioterapia administrada durante o condicionamento atinge também os tecidos normais, sobretudo aqueles que estão em permanente renovação. Por esta razão é que cai o cabelo. A queda do cabelo ocorre 1-2 semanas após a quimioterapia. Esta situação é temporária. É importante que o doente tenha o cabelo curto, para se adaptar ao novo visual. No internamento, por uma questão de higiene e conforto, os doentes acabam por pedir para cortar o cabelo bem curto, assim será mais fácil se já tiverem se adaptado ao novo visual.

     

  • Mucosite e Diarreia

    Os tecidos que revestem o tubo digestivo (mucosas) são também muito sensíveis à quimioterapia e, por isso, aparecem lesões, sobretudo na boca, garganta e esófago. A intensidade e extensão das lesões é variável conforme o doente e o tratamento efectuado e podem manifestar-se por rubor ligeiro das mucosas, erosões mais ou menos extensas ou mesmo úlceras que podem ser muito dolorosas e obrigar à utilização de analgésicos potentes. É frequente nesta fase os doentes não conseguirem alimentar-se pelo que se tem que recorrer a alimentação pela veia.

     

    Outra manifestação relativamente frequente da descamação do tubo digestivo é a diarreia. Nesta fase, o doente é aconselhado a evitar o leite e seus derivados e alimentos ricos em fibras.

     

  • Pneumonia intersticial

    A pneumonia intersticial é uma inflamação dos tecidos que envolvem as vias aéreas dos pulmões. Pode ser causada por infecções, como por exemplo pelo citomegalovírus (CMV), mas resulta muitas vezes da toxicidade do condicionamento, sobretudo nos doentes que fazem ou fizeram no passado radioterapia. O exercício ajuda a evitar que as pneumonias sejam complicadas por infecções, embora seja muitas vezes difícil de tolerar nas duas primeiras semanas depois do transplante. Por esta razão todos os quartos dispõem de uma bicicleta, além disso é muito benéfico que os doentes façam exercícios respiratórios.

     

  • Doença veno-oclusiva hepática

    A doença veno-oclusiva hepática é uma complicação do regime de condicionamento, sendo o risco maior em regimes mieloblativos, caracteriza-se pela oclusão das veias do fígado, ou seja, as paredes dos vasos hepáticos dilatam-se, acumula-se fibrina no interior desses pequenos vasos, impedindo a circulação normal no fígado, podendo mesmo bloquear as pequenas veias hepáticas. Disto resulta aumento de peso por retenção de água no corpo, edemas e ascite (líquido na cavidade abdominal). Os doentes ficam com icterícia porque a drenagem da bílis está também dificultada. Nas formas mais graves, pode resultar uma alteração acentuada da função hepática. O tratamento visa aliviar os sintomas, reduzir o inchaço e a ascite, enquanto o fígado se vai regenerando a si próprio.

     

  • Cistite hemorrágica

    Certos medicamentos utilizados no condicionamento podem provocar uma descamação da mucosa da bexiga que provoca dores, dificuldade em urinar e hemorragia. Estes doentes podem necessitar de muitas transfusões para corrigir as perdas e de lavagens frequentes da bexiga. Na grande maioria dos casos, a cistite hemorrágica resolve-se sem deixar quaisquer problemas, mas podem persistir sintomas durante algum tempo. Para evitar esta complicação os doentes, durante o condicionamento, recebem grande quantidade de soros são aconselhados a urinar frequentemente e tomam um medicamento para proteger o aparelho urinário. Com estas medidas preventivas, a cistite hemorrágica só surge raramente.

     

  • Infecções

    A quimioterapia de condicionamento elimina a medula óssea e o sistema imunitário e destroi as barreiras naturais contra a infecção (por ex., pele e mucosas da boca, intestino, etc.). Por isso, a maioria dos doentes tem infecções. O primeiro sinal é a febre. A maioria das infecções são provocadas por micróbios que fazem parte da flora normal do doente e que só provocam doença devido à diminuição das defesas do doente, sobretudo devido à falta de glóbulos brancos.

     

    Para reduzir a incidência de infecções, mantém-se o doente em isolamento e utilizam-se antibióticos para “esterilizar” o intestino. Os alimentos devem estar estéreis, por conseguinte a dieta deve ser rigorosamente vigiada. O isolamento implica que o doente permaneça no quarto e que os médicos, enfermeiros e auxiliares de enfermagem usem equipamento esterilizado quando entram no quarto.

     

    A partir do momento em que a medula produz um número de glóbulos brancos suficiente, deixa de ser necessário manter o doente isolado. O doente poderá, inclusivamente, ter alta, mas o risco de infecções persiste, sendo a mais temível a infecção pelo citomegalovirus (CMV), que é um vírus que se encontra na grande maioria das pessoas em estado latente sem provocar doença, mas que em pessoas com defesas muito diminuídas, como os doentes transplantados, pode provocar infecções muito graves. Actualmente, é possível, em muitos casos, prevenir e tratar precocemente as infecções por citomegalovirus. Para isso, é necessário uma vigilância muito frequente dos doentes, mesmo depois de terem alta. As infecções por CMV são mais frequentes nos doentes que fizeram transplante alogénico e que têm doença enxerto contra hospedeiro

     

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